Paulo Rebêlo | dezembro.2025
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Idiota gastronômico que sou e sempre fui, nunca tinha ouvido falar de falafel até meados de 2006. Um colega americano, vegetariano, me desafiou a “não gostar” do falafel recheado que ele conhecia e me levou até uma barraquinha que vendia lanches vegetarianos. Estávamos em Budapeste, capital da Hungria, onde morei entre 2006 e 2007; e onde me esbaldei nos maravilhosos pratos de porco e vitela.
Me senti meio idiota. Não apenas por desconhecer esses bolinhos de grão de bico, mas por toda a ignorância que cercava meus parcos conhecimentos gastronômicos. Embora eu não seja vegetariano, sempre fui assíduo frequentador de restaurantes vegetarianos. Às vezes por causa do tempero, que costuma sempre ser excelente; outras vezes para tentar emplacar uma política de redução de danos frente às comilanças e bebedeiras de dias anteriores. E mesmo assim, nunca tinha comido um falafel até aquele dia.
Perdi a aposta, claro, e tive que pagar o almoço da gente. Gastronomia também é cultura e o falafel me mostrou o quanto eu era um brutamontes. Em 2006, eu meio que já tinha as primeiras ideias rabiscadas para o PENSE GORDO, mas ainda não tinha a real noção do tamanho da minha ignorância culinária.
E essa sensação piorou nos anos seguintes. Porque embora eu seja carnívoro e carnista, sempre fui um assíduo frequentador de restaurantes vegetarianos. Houve épocas, principalmente nos meus primeiros anos de redação de jornal, ali por 2000 e 2001, em que almoçava e jantava nesses estabelecimentos espiritualmente elevados. E ainda não havia me aventurado no falafel.
Acho bacana que falafel tem pouca tradução, em vários países vai ser a mesma pronúncia. Tornou-se um dos poucos pratos vegetarianos que gosto de verdade (o outro talvez seja coxinha de carne de jaca), mas é difícil encontrar lugares que conseguem fazer um falafel crocrante e saboroso.
Em tempo: a foto no destaque deste texto é de uma misturinha incrível com falafel crocrante que encontro num pequeno restaurante (não sei se ainda está aberto, espero que sim) chamado Farid, perto da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), na rua Afonso Pena, em Recife. Só encontra quem passa por ali andando.
Aliás, perto do Farid tem outro lugar cujo nome é simplesmente “O Vegetariano”, um dos pioneiros na cidade e que frequentei por 20 anos e depois parei. Agora, em tempos recentes, voltei a frequentar quando estou em Recife. Por causa do falafel.
Começo a desconfiar que falafel é comida de velhos arrependidos.