As Terezas de Kundera
A morte de Milan Kundera me trouxe à memória o quanto ele detestou a adaptação americana de ‘A Insustentável Leveza de Ser’, filme de 1988 baseado em seu livro de 1984.
A morte de Milan Kundera me trouxe à memória o quanto ele detestou a adaptação americana de ‘A Insustentável Leveza de Ser’, filme de 1988 baseado em seu livro de 1984.
Quando escuto minhas amigas em dúvida se ainda gostam da outra pessoa, eu já sei a resposta, elas também já sabem a resposta, mas a gente senta para beber e concluir o óbvio mesmo assim. O único que nunca sabe de nada é o dito cujo, pois a gente tem essa tendência delirante de achar que as mulheres estão sempre contentes do nosso lado.
Nossas diferenças pareciam gritantes, mas o universo ficava mudo diante de um abraço. Súdito do silêncio que sou, aprendi a admirar a suficiência de abraços assim. Infelizmente para mim, e felizmente para os homens que vieram antes e os homens que virão depois, essa suficiência sempre parece muito pouco para muitas pessoas.
Tem gente com medo de palhaço, tem gente com medo de anão e tem gente com medo do bicho-papão. Eu tenho medo de velhinhas simpáticas. Muito medo.
Gosto mais de responder do que de perguntar. Porque perguntar exige um desprendimento que não tenho. Uma pergunta costuma exigir uma resposta, enquanto a resposta não exige nada. Nem mesmo que você acredite nela. A resposta se encerra.
Revirei a casa inteira. Abri as caixas de papelão. Empurrei o sofá. Abri as mochilas. Olhei dentro do armário de roupa. Ela tinha levado até a xicrinha. Quando até as formalidades se dissipam, que esperança ainda pode restar para o afeto de uma xícara?
Ela perguntou se eu sabia que levava apenas oito segundos para uma pessoa concluir se vai gostar da outra. Essa frustração cronometrada sempre me lembrou uma lenda urbana, bem popular nos anos 80, sobre como se deve cozinhar o verdadeiro spaghetti italiano: para saber se o ponto do espaguete está bom durante o preparo, jogue-o na parede. Se grudar, é porque está no ponto certo.
Fico feliz, de verdade, que várias de minhas amigas na faixa dos 40 a 50 anos de idade estejam saindo com homens bem mais novos. Por vontade própria, porque querem e porque podem. Embora o interesse e o desinteresse nada tenha a ver com idade, a diferença cronológica às vezes direciona as expectativas para argumentos enviesados.
Aprendi a ignorar a passagem do tempo desde muito cedo. Hoje percebo que foi justamente o contrário. O tempo que aprendeu a me ignorar.