A curiosa casta de Kast

A curiosa casta de Kast, por Paulo Rebêlo

Paulo Rebêlo
Dezembro 2025 | Depois de Amanhã [link]

José Antonio Kast é o mesmo rebento político que, em 1988, votou pela continuidade da ditadura de Augusto Pinochet no plebiscito chileno.

Perderam (44% vs 56%) para as eleições diretas, que ocorreram em 1990, mas Pinochet manteve-se como o Comandante das Forças Armadas até 1998. Na prática, o general foi uma Espada de Dâmocles apontada para o pescoço de Patricio Aylwin, o presidente eleito para a transição.

Agora eleito presidente do Chile, José Antonio Kast é um retrógrado coerente: esteve sempre daquele mesmo lado. O da tortura e repressão. Tem vários discursos, mas não tem duas caras.

São tempos curiosos. Porque o Chile teve a segunda mais sangrenta ditadura da América do Sul, ficando atrás apenas da Argentina que, não curiosamente, também elegeu em tempos recentes um filhote do atraso cognitivo e retrocesso social.

Calma, eu sei o que você está pensando. A gente fez a mesma coisa em 2018 no Brasil, ao eleger um abigobal – e toda sua família de abigobais – que idolatram o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe dos centros de tortura e assassinato da nossa anistiada ditadura militar.

Curioso também porque, diferente de nós, os chilenos sempre se orgulharam de suas conquistas educacionais e desenvolvimento socioeconômico. Para eles, somos todos analfabetos políticos aqui neste imenso matriarcado de Pindorama, como diria Oswald de Andrade em seu Manifesto Antropófago.

Beleza, a gente é meio burrinho mesmo. Elegemos e reelegemos um Congresso cheio de parasitas retardados. Mas temos a desculpa do analfabetismo funcional e do analfabetismo político. E eles, tão desenvolvidos? E os argentinos, tão europeus e intelectualmente superiores?

Que desgraça é essa, hermanos?

Se o Chile fosse um país europeu ao invés de um pedaço andino na Sudamérica, o terror sistemático da ditadura de Pinochet estaria lado a lado, nos livros de História, ao holocausto de Hitler. Aliás, outra curiosidade: José Antonio Kast é o primeiro presidente chileno descendente de alemães.

Poderíamos passar horas discutindo a proliferação da crueldade e do retrocesso, mas seria inútil. Uns falam em cansaço intelectual dos progressistas, outros falam em incapacidade de comunicação da esquerda. É falatório em excesso e alternativas em escassez.

Difícil demais de entender, então prefiro acreditar na hipótese que me parece mais realista a cada dia: é um vírus interplanetário. Deve ter vindo arrastado pelas tempestades solares, programado por alienígenas para a gente se perseguir e se afundar na lama. Neste ponto, talvez os bolsominions não estejam totalmente errados quanto apontam o celular para o céu em busca de contato extraterrestre. Mas a ignorância é tão grande que não percebem que a ajuda já chegou e faz tempo.

Tenho achado melhor acreditar em intervenção alienígena. Porque a alternativa me parece bem pior.


Foto em destaque
Propaganda do MIR (Movimiento de Izquierda Revolucionaria).
Ruas de Santiago, Chile. Fevereiro, 2011.
Câmera Nikon D90.

Categories: Depois de Amanhã

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