Paulo Rebêlo | dezembro/2025
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Pedi uma pizza e veio uma tesoura junto.
Estranho. Olhei para o garçom e ele foi embora, como se nada de diferente estivesse ocorrendo. Quando ele passou perto de mim de novo, não me contive e perguntei: cidadão, a tesoura é para quê?
Naquela pizzaria meio chique, meio blasé, meio modernosa, aparentemente as pizzas são servidas com uma tesoura para ajudar a cortar a massa das bordas.
Achei inútil, mas gostei. Não da pizza, mas da tesoura. Porque embora não tenha tido qualquer utilidade prática para cortar a majestosa, o instrumento poderia ser usado para tesourar o pizzaiolo que fez uma pizza tão ruim. Na sequência, tesouraria o dono do estabelecimento que cobra um valor tão caro por um pedaço de borracha com pseudo-queijo.
Já comi muitas pizzas na vida, mas outubro de 2025 entrou para minha gorda história por ter sido a primeira vez em que recebi uma tesoura junto à redonda massa. Também foi uma das pizzas mais sem graça e sem gosto de que tenho memória.
Ou talvez eu não entenda tão bem de pizza o quanto acho que entendo. Pode ser um sinal do universo. Uma láctea comprovação de que ainda tenho muitas pizzas a explorar no tempo que ainda me resta neste redondo planeta.
Fui atraído pelo nome da pizzaria: Rustico. Sem acento mesmo. Foi em Viena, Áustria, durante as atividades de lançamento de um livro aqui da editora. Imaginei que encontraria uma pizza rústica, selvagem, mas logo ao entrar no recinto percebi que algo não cheirava bem. Muitas luzes, música eletrônica, arquitetura modernosa.
De rústico, apenas eu. Que pela milionésima vez, errei feio e errei gordo em minhas escolhas idióticas. E ainda paguei uma nota por aquele pedaço de borracha. Na hora de passar o cartão, fiquei com um olho na conta e outro na tesoura.